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Foto do escritorDra Maria Amélia Bogéa

A creatinina alta realmente é sinal de função renal comprometida?

Atualizado: 22 de nov. de 2022


Os rins:


Os rins são importantes órgãos, com múltiplas funções, como regulação da pressão arterial, produção de eritropoetina, participação do metabolismo do cálcio, produção de glicose em situação de jejum, regulação do PH e, a mais conhecida, a filtração.


Em condições fisiológicas:


Em um indivíduo hígido, 180 litros de plasma são filtrados pelos rins. Considerando que o corpo possui em média 3 litros de plasma, isso significa que o plasma é filtrado por completo cerca de 60 vezes por dia. Disso, é excretado cerca de 1%, isto é, aproximadamente 1,5L de urina por dia, com diversos produtos de degradação, bem como sais e água.


Vamos aprofundar um pouco na fisiologia ?


A partir do filtrado inicial, ainda nos rins, parte das substâncias são reabsorvidas parcialmente ou completamente (como a glicose) e outras são secretadas e, por fim, excretadas na urina. Portanto, desde que entram nos rins até o momento em que são eliminadas as substâncias podem sofrer alterações, de modo que o produto urinário é o filtrado, menos aquilo que é reabsorvido (volta dos túbulos renais para o sangue), mais o que é secretado (volta do sangue para os tubulos renais)


Sob essa perspectiva, será que conseguimos estimar a função renal de um indivíduo com base em uma substância dissolvida no sangue ?


Se essa substância existe, é certo que uma vez filtrada, ela deveria sofrer o mínimo de alterações, para que a filtração seja igual à excreção na urina. Em outras palavras, essa substância não poderia sofrer com os processos de reabsorção e secreção.


Nesse sentido, um dos produtos do metabolismo mais utilizados para avaliar a função renal é a creatinina, uma substância derivada do metabolismo do músculo esquelético. Ela pode servir como parâmetro, uma vez que não passa pelo processo de reabsorção tubular, ou seja, sofre pouca alteração desde que entra pelo glomérulo renal até o momento em que é secretada. No entanto, de 10 a 40% dessa substância pode ser secretada (passagem do sangue para os túbulos renais).


Então, afinal, a creatinina é o soluto ideal para medir a função renal ? Em especial, a taxa de filtração ?


A resposta é NÃO !


A creatinina, além de sofrer algumas alterações nos túbulos renais, é uma substância que depende do quanto de massa muscular o indivíduo tem e também da sua nutrição. Além disso, conforme o tempo passa, o rim perde parte da sua capacidade de filtrar solutos, tornando-se cada vez menos eficiente. Por isso, algumas fórmulas e exames mais invasivos são os mais ideais para estimar quão íntegros estão os rins.


Exemplo: fórmula de Cockcroft Gault, leva em conta o peso, a idade, o sexo e a concentração de creatinina


Pode ser calculada no site: https://arquivos.sbn.org.br/equacoes/eq1.htm


Apesar de não ser o "padrão outro", a creatinina é extremamente relevante na prática clínica pela sua praticidade, uma vez que é uma substância endógena de fácil coleta e dosagem. Para o acompanhamento ambulatorial, podemos usar esse marcador como um indício inicial de função renal comprometida, caso esteja elevado, mas sem fechar diagnósticos, principalmente se o perfil do paciente for de um indivíduo com alta massa muscular, com dietas hiperproteicas e com suplementação de creatina !


Sendo assim, não se assuste se a sua creatinina estiver um pouco alta, procure um bom médico para avaliar a sua situação.


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