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Foto do escritorDra Maria Amélia Bogéa

Perda de peso e emagrecimento: diferenças metabólicas

Atualizado: 21 de nov. de 2022


Perda e de peso e emagrecimento, embora utilizados no senso comum como sinônimos, são termos que se referem a conceitos distintos. Essa confusão ocorre, a princípio, porque tendemos a associar a redução de massa corporal percebida na balança necessariamente com a perda de gordura. No entanto, é perfeitamente possível que uma pessoa, ao aderir um protocolo dietético, obtenha um resultado supostamente satisfatório de diminuição do peso e, ainda assim, aumente a sua proporção de massa gorda. De maneira bem simplista, isso significa perder peso e, ao mesmo tempo, engordar.


Para consolidar a diferença entre esses conceitos, atenção às definições:

  • Perda de peso é a redução numérica em massa percebida na balança sem considerar a proporção de gordura perdida.

  • Emagrecimento é a redução de gordura percebida a partir de uma análise da composição corporal do indivíduo.


Uma vez entendida a diferença conceitual, é possível aprofundar nas diferenças metabólicas.

Ao adotar protocolos dietéticos que visam ao emagrecimento, a premissa inicial é o déficit calórico. Esse déficit calórico, no entanto, deve ser controlado a fim de que sejam ativadas as vias metabólicas mais adequadas para a perda de gordura associada a preservação da massa magra.

Em condições ideais, a oxidação de gordura ocorre mediante três processos primordiais:

  1. Lipólise (Quebra de triacilglicerol em 3 ácidos graxos + glicerol).

  2. Beta-oxidação (obtenção de energia por meio da conversão de ácido graxo em Acetil-CoA.

  3. Cetogênese (síntese de corpos cetônicos a partir do Acetil-CoA).

Caso isso não ocorra, a perda de peso pode vir às custas de água e de massa muscular em vez da redução de tecido adiposo.


Cuidado com os atalhos !

Algumas dietas que prometem emagrecimento em um curto espaço de tempo, em verdade, tem como resultado a perda de peso dissociada do emagrecimento. Um exemplo disso é o famoso jejum. Os protocolos de jejum precisam ser bem orientados para que haja o efeito desejado sem intercorrências no meio do processo.


Nesse protocolo a ausência de nutrientes por longos períodos pode ativar o sistema ubiquitina proteassoma, estimulando, assim, a degradação proteica. Além disso, no refeeding – retomada da alimentação – também pode ocorrer o estímulo da síntese de lipídios, resultando no acúmulo de gordura. Por fim, a longo prazo, o jejum também pode promover a biossíntese de glicosaminas e a consequente redução dos receptores de insulina, o que para algumas pessoas, piora um quadro de resistência a esse hormônio.


Não subestime a capacidade do seu corpo de se adaptar

Para além do jejum, dietas altamente restritivas provocam alterações hormonais que resultam na queda dos hormônios tireoidianos (principalmente T3 livre) e, consequentemente, na redução da taxa metabólica.


Ademais, diante de uma situação de baixa disponibilidade de nutrientes, em especial carboidratos e gorduras, o nosso corpo consegue se adaptar, de forma a produzir energia com o que tem de disponível. Isso significa transformar proteína em glicose (fonte energética primária) mediante a um processo denominado gliconeogênese.


Para ilustrar, caso um indivíduo adote uma estratégia dietética com um corte calórico abrupto, ocorre a redução da glicemia, seguida da ativação do cortisol. Esse, por sua vez, ativa vias que promovem perda de gordura em regiões periféricas e acúmulo de gordura na região abdominal. Além disso, o cortisol também ativa as vias de gliconeogênese, o que determina a “transformação” de proteína (músculo) em glicose. Como resultado, tem-se a perda de massa muscular e a manutenção ou a redução proporcionalmente menor de gordura.


Nesse viés, uma vez estabelecido o déficit calórico, de fato haverá perda de peso, mas, para que ocorra emagrecimento, é necessário modular o metabolismo, por meio de estratégias nutricionais adequadas, a fim de mitigar a perda de massa magra e potencializar a utilização de gordura como fonte energética. Por isso emagrecer não é tão fácil e precisa de um bom acompanhamento profissional!


Referências:

O'BRIAN, J T . Thyroid hormone homeostasis in states of relative caloric deprivation. Metabolism. 1980. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6772921/. Acesso em: 1 jan. 2022.

DAS NEVES, W. Fasting: a major limitation for resistance exercise training effects in rodents. Brazilian Journal of Medical and Biological Research – BJMBR . 2018. Disponível em: https://www.bjournal.org/article/fasting-a-major-limitation-for-resistance-exercise-training-effects-in-rodents/. Acesso em: 1 jan. 2022.

BRITO, Carina. Dietas restritivas podem causar problemas de saúde e ganho de peso. Jornal da USP. 2017. Disponível em: https://www.bjournal.org/article/fasting-a-major-limitation-for-resistance-exercise-training-effects-in-rodents/.


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