No Brasil, segundo o Vigitel, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas vem aumentando ao longo dos anos. E com ele vem associado os danos à saúde e sociais, que envolvem mecanismos como os efeitos tóxicos e psicoativos do álcool ao corpo humano, bem como as alterações na saúde hormonal!
Um dos principais hormônios afetados pelo uso indiscriminado do álcool é a arginina vasopressina (VP), também conhecida como hormônio antidiurético ou ADH, a qual está envolvida em vários efeitos fisiológicos e comportamentais. A associação entre VP e álcool foi inicialmente descoberta no contexto de alterações induzidas pelo álcool na VP plasmática; e hoje sabe-se que alterações induzidas pelo álcool na VP na periferia também se estendem ao cérebro. Resumidamente, os níveis plasmáticos de VP geralmente diminuem durante o consumo de álcool e aumentam após a interrupção do consumo.
Por outro lado, a literatura mostra que os indivíduos que abusam do álcool parecem ter diferenças em seu sistema VP, quando preparados com aqueles que possuem uma exposição menos frequente à essa substância. Isto é, os alcoólatras apresentaram uma diminuição mais pronunciada nos níveis plasmáticos de VP quando bebiam, além de apresentarem níveis suprimidos de VP mesmo durante a abstinência alcoólica. Além disso, a vasopressina possui atividades neuromoduladoras em regiões do cérebro, sugerindo que esta pode afetar o comportamento relacionado ao álcool, isto é, pode excitar neurônios de ácido gama-aminobutírico (GABA), neurônios de serotonina na rafe dorsal e neurônios motores espinhais, por exemplo.
Em relação a fisiologia reprodutiva feminina, apesar dos efeitos fisiológicos do consumo de álcool não serem bem delineados devido à escassez de estudos de alta qualidade nesta área, alguns artigos mostram que, em estudos em humanos e modelos animais, a ingestão crônica ou prolongada de álcool pode estar associado a alterações na ovulação e regularidade do ciclo menstrual. Além disso, a literatura também mostra que o uso agudo de álcool esteve associado ao aumento dos níveis de estradiol, testosterona e hormônio luteinizante, sendo esse aumento observado principalmente em mulheres que relataram consumo excessivo de álcool recentemente, embora sem disfunção do ciclo menstrual associada.
Por fim, embora o consumo agudo de álcool possa ter pouco ou nenhum efeito associado no ciclo menstrual, parece haver um efeito negativo nos resultados do tratamento de fertilidade, pois tem-se uma associação entre esse consumo e a diminuição da reserva ovariana e a fecundidade em mulheres, devido à alterações hormonais. Ao passo que, em relação ao homem, alguns estudos associam o consumo alcoólico com problemas na fertilidade, ou seja, seu consumo a longo prazo está associado a liberação reduzida de gonadotrofinas, atrofia testicular e diminuição da produção de testosterona e esperma.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Brasil. Vigitel Brasil 2006-2020: tabagismo e consumo abusivo de álcool. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022. ISBN 978-65-5993-173-6
Harper, Kathryn M et al. “Vasopressin and alcohol: a multifaceted relationship.” Psychopharmacology vol. 235,12 (2018): 3363-3379. doi: 10.1007/s00213-018-5099-x
Van Heertum, Kristin, and Brooke Rossi. “Alcohol and fertility: how much is too much?.” Fertility research and practice vol. 3 10. 10 Jul. 2017, doi: 10.1186/s40738-017-0037-x