A terapia de reposição hormonal já sofreu momentos de enormes controvérsias e debates na literatura, grandes entidades da medicina e, inclusive, entre o público leigo, fazendo surgir um receio muito grande em torno do seu uso. Entender quando o seu uso é seguro e, principalmente, recomendado, é um passo importante para evitar uma visão errônea acerca desse tratamento.
A indicação mais conhecida para a reposição hormonal em mulheres diz respeito ao alívio dos sintomas da menopausa. A eficácia se dá principalmente na redução dos sintomas vasomotores (que causam as ondas de calor ou fogachos) e da síndrome geniturinária, marcada por alterações na vulva, vagina, bexiga e uretra, causando ressecamento e secura vaginal, incontinência urinária e dispareunia (que é a dor durante a relação sexual, associada à uma atrofia da região). Apesar dos temores acerca do risco elevado de doenças cardiovasculares e câncer de mama, as evidências atuais mostram que aproveitar a “janela de oportunidade”, que diz respeito aos 10 anos após o início da menopausa, garante os melhores resultados, assim como reduz os riscos por todas as causas de mortalidade.
Outra possibilidade importante da reposição é nas mulheres em elevado risco para osteoporose, com aumento da probabilidade de quedas e fraturas - que são uma causa subestimada de mortalidade. Mulheres que têm menopausa precoce (na faixa dos 40 anos) e que sofrem de sintomas intensos ainda na perimenopausa (o período de transição da vida fértil para a cessação do período menstrual) também podem ser muito beneficiadas com o uso da terapia.
Mesmo sendo recomendada nesses casos, é importante se ater ao fato de que existem sim contraindicações para o uso, como em casos de mulheres que já tiveram câncer de mama ou de endométrio, infarto do miocárdio ou AVC. Além disso, para se obter segurança durante a realização da terapia hormonal, a escolha da medicação (conjugados de estrogênios equinos + acetato de medroxiprogesterona, estradiol oral ou transdermal ou progesterona micronizada) depende de uma avaliação criteriosa do histórico pessoal e familiar, assim como dos sintomas experienciados por aquela mulher. Um exemplo da necessidade de individualização diz respeito ao uso de opções com progesterona, que só devem ser feitas em mulheres que não passaram por histerectomia, ou seja, ainda possuem útero.
A principal recomendação, de manejo dos sintomas da menopausa, especialmente aproveitando a janela de 10 anos após a chegada dessa fase, é extremamente segura e pode ser ainda mais benéfica na proteção de fatores de risco com mulheres em elevado risco de doenças crônicas. Hoje em dia, com um olhar mais crítico sobre os dados que geraram uma aversão exagerada a esse tipo de tratamento, demonstram algumas falhas metodológicas importantes. Existem até algumas pesquisas que demonstram que muitas mortes prematuras de mulheres na menopausa poderiam ter sido evitadas se a reposição hormonal tivesse começado na hora certa, com o devido acompanhamento. Além disso, a melhora na qualidade de vida é significativamente maior do que o uso de outras medicações convencionais, que não apresentam resultados expressivos ou podem até aumentar o risco de acometimento por doenças cardiovasculares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Langer, R. D., Hodis, H. N., Lobo, R. A., & Allison, M. A. (2021). Hormone replacement therapy – where are we now? Climacteric, 24(1), 3–10. doi:10.1080/13697137.2020.1851183
Lobo, R. A. (2016). Hormone-replacement therapy: current thinking. Nature Reviews Endocrinology, 13(4), 220–231. doi:10.1038/nrendo.2016.164
Revista Feito para Ela (FEBRASGO)
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