Relembrando:
A endometriose é uma das principais causas de dor pélvica entre mulheres em idade reprodutiva. Como já abordado em textos do blog e do Instagram, a sua fisiopatologia está fortemente relacionada com fatores genéticos, ambientais, hábitos alimentares e sedentarismo. Além disso, é importante lembrar que trata-se de uma doença estrógeno-dependente, isto é, depende da ação trófica desse hormônio, especialmente da sua versão biologicamente ativa, o estradiol (E2). Isso porque, o estradiol exerce uma ação mitótica (ploriferativa) responsável pelo crescimento e inflamação do tecido endometriótico, inclusive os ectópicos.
Resistência à progesterona:
A progesterona pode aliviar a dor limitando o crescimento e a inflamação na endometriose, todavia, uma parcela das mulheres com endometriose não respondem ao tratamento com progestinas. Cabe ressaltar, ainda, que as alterações moleculares induzidas pela progesterona no tecido endometrial eutópico –localizado no sítio normal, ou seja, uterino– de mulheres com endometriose são embotadas ou indetectáveis. Essas observações in vivo sugerem uma resistência à progesterona, ou seja, uma resposta reduzida a esse hormônio em um contexto de endometriose. Mas para entender melhor esse processo, precisamos falar da ação da progesterona em situações não patológicas.
Situação fisiológica:
No endométrio normal, a progesterona atua nas células do estroma para induzir a secreção de fatores parácrinos. Esses fatores (ainda não completamente elucidados), atuam nas células epiteliais vizinhas (definição de ação parácrina) para induzir a expressão da enzima 17beta-hidroxiesteróide desidrogenase tipo 2 (17beta-HSD-2), que metaboliza o estrogênio biologicamente ativo E2 em estrona (E1). Além disso, em situação fisiológica, a progesterona atua de modo a promover a apoptose, ou seja, a morte celular programada de células com anomalias. Esse processo é importante para que as células anômalas não se ploriferem e, assim, causem danos ao corpo.
Situação patológica:
Já no tecido endometriótico, a progesterona não induz a expressão epitelial de 17beta-HSD-2 devido a um defeito nas células do estroma. Essa incapacidade das células estromais endometrióticas de produzir fatores parácrinos induzidos por progesterona pode ser devido à falta de receptores de projesterona-B (PR-B) e níveis muito baixos de receptor de progesterona A (PR-A) –por isso a resistência–observados in vivo no tecido endometriótico. O resultado final é o metabolismo deficiente de E2 na endometriose, dando origem a altas concentrações desse hormônio.
Referências:
BULUN, Serdar et al. Progesterone resistance in endometriosis: Link to failure to metabolize estradiol. 2006. Disponível em: 10.1016/j.mce.2005.11.041. Acesso em: 24 mar. 2022.
BULUN, Serdar et al. 17Beta-hydroxysteroid dehydrogenase-2 deficiency and progesterone resistance in endometriosis. 2010. Disponível em: 10.1055/s-0029-1242992. Acesso em: 24 mar. 2022.